sábado, 17 de julho de 2010

Ciclos políticos

Em matéria publicada hoje no site Contas abertas, Leandro Kleber demonstra mais uma evidência da teoria dos ciclos políticos:

Sob o argumento de manter a sociedade informada sobre as políticas do poder público, o governo federal gastou R$ 362 milhões em publicidade no primeiro semestre deste ano. O montante é 53% superior ao aplicado no mesmo período de 2009, R$ 236,8 milhões. Além disso, a quantia desembolsada em 2010 ultrapassou a média de gastos com publicidade dos últimos três anos anteriores à eleição. A diferença, segundo dados do Siafi (sistema de acompanhamento de receitas e despesas da União), é de cerca de R$ 38 milhões acima do limite legal previsto pela legislação eleitoral.

Em porcentagem, o valor pago pela administração direta entre janeiro e junho de 2010 já excede em 12% a média das despesas com publicidade registradas em 2007, 2008 e 2009, entre janeiro e dezembro de cada ano.

Os recursos são divididos em dois tipos de publicidade: a institucional, que tem previsão orçamentária de R$ 167 milhões para 2010 - administrados apenas pela Presidência da República (PR) com o objetivo de divulgar informações sobre atos, obras, programas, metas e resultados de governo -; e a de utilidade pública, com R$ 533,3 milhões previstos e utilizados por 54 instituições federais. Destes órgãos, quase 40 já gastaram, entre janeiro e junho, a verba com o intuito de informar, orientar, prevenir e alertar a população sobre temas específicos.

O governo prevê desembolsar R$ 700,3 milhões até dezembro com as campanhas publicitárias. Quase um terço refere-se a anúncios diretamente vinculados à Presidência da República. A Lei Eleitoral determina o limite para os pagamentos feitos até 3 de julho, ou três meses antes das eleições. No período eleitoral (julho a outubro) , a lei só autoriza publicidade em caso “de grave e urgente necessidade pública”, previamente reconhecida pela Justiça Eleitoral. A propaganda de produtos e serviços de empresas estatais que concorram no mercado também fica liberada.

O limite para os gastos com publicidade foi estabelecido pela Lei Eleitoral de 1997. Um dos objetivos é conter condutas que afetam a igualdade de oportunidades entre os candidatos. A Advocacia-Geral da União (AGU) também já fez orientações ao governo sobre como se portar para as eleições de outubro deste ano. Nela, informa que é proibido gastar com publicidade dos órgãos públicos federais ou das empresas estatais até 3 de julho mais do que a média anual dos gastos dos três anos anteriores ou do ano imediatamente anterior à eleição. Entre os dois valores, a AGU afirma que vale o menor.

Presidência lidera desembolsos

Entre os órgãos da administração federal direta, quem mais fez uso da sua verba de comunicação no primeiro semestre foi a Presidência da República. Foram R$ 28 milhões com publicidade de utilidade pública e R$ 109,5 milhões destinados às campanhas institucionais, exclusivas da PR. Entre elas, pesquisas de opinião sobre o andamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Minha Casa Minha Vida, entre outras ações do governo.

O Ministério das Cidades, principalmente via Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (Funset), aparece em segundo colocado, com desembolsos na casa dos R$ 81 milhões no total. O Funset faz campanhas educativas sobre segurança e educação no trânsito. Em seguida, quem mais utilizou a verba de publicidade de utilidade pública foi o Ministério da Saúde, com R$ 76 milhões aplicados em campanhas.

Não estão incluídos no cálculo os valores relativos à publicidade legal e à propaganda mercadológica. Também não fazem parte do levantamento os gastos das empresas estatais e sociedades de economia mista, como o Banco do Brasil e a Petrobras.

Secom diz não ter alcançado o teto

A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), responsável por coordenar a publicidade na administração direta e nas empresas publicas, informou ao jornal O Estado de S.Paulo que calcula como limite de gastos até 3 de julho o valor de R$ 903,5 milhões e, assim, não teria sido alcançado.

Os dados apresentados pela Secom ao jornal divergem da base de dados do Siafi e dos registrados no Portal da Transparência, mantido pela Controladoria-Geral da União. Questionada sobre as divergências, a secretaria informou à repórter Marta Salomon que excluiu da contabilidade dos gastos com publicidade os custos da divulgação da imagem do Brasil no exterior, das pesquisas de opinião encomendadas pelo Planalto e do portal do governo.

A Secom ainda apresentou à jornalista interpretação diferente da que consta na cartilha da Advocacia-Geral da União. “A Lei Eleitoral é clara quando diz que as restrições de investimentos em publicidade dizem respeito ao ano orçamentário, de janeiro a dezembro, e não mês a mês do ano eleitoral ou ao primeiro semestre do ano eleitoral”, escreveu a secretaria. Confrontada com a versão publicada na cartilha do governo, a Secom respondeu que cumpriria até 3 de julho o limite equivalente a média anual entre 2007e 2009.

Do que as empresas realmete precisam?

Recebi um e-mail com um texto de Max Gehringer, que fala sobre o exagero cometido pelas empresas, quando exigem demasiadas habilidades no processo seletivo de seus funcionários. Vejamos:

Vi um anúncio de emprego. A vaga era de Gestor de Atendimento Interno, nome que agora se dá à Seção de Serviços Gerais. E a empresa exigia que os interessados possuíssem - sem contar a formação superior - liderança, criatividade, energia, ambição, conhecimentos de informática, fluência em inglês e não bastasse tudo isso, ainda fossem HANDS ON. Para o felizardo que conseguisse convencer o entrevistador de que possuía essa variada gama de habilidades, o salário era um assombro: 800 reais. Ou seja, um pitico.

Não que esse fosse algum exemplo fora da realidade. Ao contrário, é quase o paradigma dos anúncios de emprego. A abundância de candidatos permite que as empresas levantem cada vez mais a altura da barra que o postulante terá de saltar para ser admitido. E muitos, de fato, saltam. E se empolgam. E aí vêm as agruras da super-qualificaçã o, que é uma espécie do lado avesso do efeito pitico...

Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros candidatos tão bem preparados quanto ela, a Fabiana conseguisse ser admitida como gestora de atendimento interno.. E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, Gerente da Contabilidade.

Seu Borges:
-- Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.
Fabiana:
-- In a hurry!
Seu Borges:
-- Saúde.
Fabiana:
-- Não, Seu Borges, isso quer dizer "bem rapidinho". É que eu tenho fluência em inglês. Aliás, desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência em inglês se aqui só se fala português?
Seu Borges:
-- E eu sei lá!! Dá para você tirar logo as cópias?
Fabiana:
-- O senhor não prefere que eu digitalize o relatório? Porque eu tenho profundos conhecimentos de informática.
Seu Borges:
-- Não, não.. Cópias normais mesmo.
Fabiana:
-- Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que tiramos.
Seu Borges:
-- Fabiana, desse jeito não vai dar!
Fabiana:
-- E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.
Seu Borges:
-- Como assim?
Fabiana:
-- É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um desperdício do meu potencial energético.
Seu Borges:
-- Olha, neste momento, eu só preciso das três cópias.
Fabiana:
-- Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro...
Seu Borges:
-- Futuro? Que futuro?
Fabiana:
-- É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não aconteceu nada.
Seu Borges:
-- Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu nada!
Fabiana:
-- Sei. Mas o senhor é hands on?
Seu Borges:
-- Hã?
Fabiana:
-- Hands on....Mão na massa.
Seu Borges:
-- Claro que sou!
Fabiana:
-- Então o senhor mesmo tira as cópias. E agora com licença que eu vou sair por aí explorando minhas potencialidades. Foi o que me prometeram quando eu fui contratada.

Então, o mercado de trabalho está ficando dividido em duas facções:
1 - Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas vagas porque não têm as qualificações requeridas.
2 - E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são admitidos porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não poderão usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas.

Alguém ponderará - com justa razão - que a empresa está de olho no longo prazo: sendo portador de tantos talentos, o funcionário poderá ir sendo preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores.

Em uma empresa em que trabalhei, nós caímos nessa armadilha. Admitimos um montão de gente superqualificada. E as conversas ficaram de tão alto nível que um visitante desavisado confundiria nossa salinha do café com a Fundação Alfred Nobel.

Pessoas superqualificadas não resolvem simples problemas!

Um dia um grupo de marketing e finanças foi visitar uma de nossas fábricas e no meio da estrada, a van da empresa pifou. Como isso foi antes do advento do milagre do celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto, motorista da van. E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês, tinha informática e energia e criatividade e estava fazendo pós-graduação... só que não sabia nem abrir o capô. Duas horas depois, quando o pessoal ainda estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de bicicleta. Para horror de todos, ele falava "nóis vai" e coisas do gênero. Mas, em 2 minutos, para espanto geral, botou a van para funcionar. Deram-lhe uns trocados, e ele foi embora feliz da vida.

Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as Empresas modernas torcem o nariz: O QUE É CAPAZ DE RESOLVER, MAS NÃO DE IMPRESSIONAR.

Max Gehringer
Revista EXAME