Enio Salu, no Site Financial Web, fala sobre o que acha ser o maior bem da empresa.
(19/08/10)
É comum o questionamento sobre qual o bem mais valioso da empresa: tecnologia, colaboradores (funcionários), marca, capital ...
Somente alguns, digamos assim mais antigos (como eu), insere os contratos na lista.
Quando dizemos isso vemos o horror estampado no olhar da maioria das pessoas que ainda não entenderam a essência desta afirmação.
Vamos falar sobre fatos para discutir o assunto – nada de opiniões.
Nas últimas décadas, e principalmente no estado de desenvolvimento em que o Brasil se inseriu, não se pode questionar que a formalidade passou a ser a tônica dos negócios:
Uma empresa, mesmo a mais simples, inicia com um contrato: o contrato social. Tão exigido quanto à análise de crédito quando se deseja estabelecer uma relação comercial entre duas empresas;
Cada funcionário tem um contrato de trabalho. Apesar da teoria querer mascarar a realidade, em São Paulo por exemplo, os maiores salários costumam ter 2 contratos: o CLT e o PJ que complementa o que chamamos de CLT-Flex;
Para existir a empresa necessita estar em um local físico: contratos de aquisição, locação, condomínio e utilidades como água, energia, telefonia, etc.;
Empresas, virtuais ou não, tem contratos para hosting, e_mail, e_mail marketing, telefonia IP, e outros relacionados à ‘vida em Matrix’;
Para conforto dos colaboradores (e clientes) os contratos de manutenção do ar condicionado, limpeza, segurança, e outros serviços gerais;
Contratos de tecnologia se multiplicam: sistema, sistema operacional, banco de dados, links, antivírus e mais uma infinidade. E se multiplicam por 2: o contrato de suporte e o contrato de manutenção, que são coisas diferentes;
Contratos financeiros: plano de saúde dos colaboradores, seguro de vida, seguros patrimoniais, empréstimos, aplicações financeiras, leasing ... O CFO que geralmente tem procuração para formalizar contratos, sabe que quase 1/3 dos contratos são da sua própria área;
Tudo isso sem falar da outra infinidade de contratos de prestação de serviços e insumos relacionados ao ‘core’ da empresa: comprar, modificar e vender ou prestar serviço – os da Diretoria de Operações.
Mesmo se eliminarmos os contratos de trabalho dos colaboradores da lista a regra é que a empresa tem muito mais contratos do que funcionários.
O que mudou do final do século passado para cá na essência: os homens não usam mais bigode, e boa parte dos gestores são mulheres. O velho acordo no fio do bigode é coisa do passado. Hoje vale a máxima de ‘escrever e assinar pro caldo não entornar’ e ‘escreveu e não leu o pau comeu’.
Os acordos entre as empresas eram amadores, por várias razões, sendo as mais evidentes: o mercado agora oferece mais opções, a administração familiar foi sendo extinta como modelo de gestão, as empresas tiveram muitos problemas com a informalidade e a gestão jurídica evoluiu – os direitos passaram a ser mais respeitados (e exigidos).
Micro empresas tem dezenas de contratos ... pequenas e médias: centenas ... grandes: milhares !
Prova disso é que não se inicia um processo de fusão, cisão, abertura de capital, aporte de investimento ou coisas do gênero antes de analisar a carteira de contratos da empresa (os de fornecimento e os de aquisição). O passivo trabalhista é importante, mas a projeção da realização dos contratos vem em primeiro lugar.
‘Fala sério’: você investiria um tostão em uma empresa sem aferir os contratos dela (os ativos e os recém encerrados que podem estar em litígio ou risco iminente de ) ?
O que causa certa estranheza para quem (como eu) atua no mercado de consultoria em gestão de contratos é que a maior parte das empresas não se atentou para isso – o controle de um dos seus bens mais valiosos (senão o mais valioso) é amador.
O gestor da área de negócios, que sempre declarou não ter competência para gerir adequadamente pessoas, além de não possuir técnica adequada para gerir os contratos ainda ‘odeia os contratos’. Ao contrário dos funcionários com quem se relaciona regularmente (almoça, vai junto ao happy hour), quando se fala de contratos vê-se nos olhos que ele nem sabe onde estão – nem olha para eles e só se lembra dos infelizes quando uma demanda judicial ou um problema aflora.
As empresas precisam entender que os gestores de contratos precisam de ajuda !
Para gerir pessoas o gestor da área de negócios conta com o RH e com o Jurídico:
RH para resolver formalidades, contratar, demitir, instruir sobre a melhor forma de avaliar, manter o funcionário motivado e controlar obrigações legais;
Jurídico nas demandas e formalização.
Para gerir contratos:
Necessitam do Jurídico para a mesma coisa: demandas e formalização;
E necessitam de metodologia e apoio para contratar, controlar obrigações legais, medir, se relacionar comercialmente com a outra empresa, etc. Eles não têm formação adequada para isso, porque somente cursos de direito falam de contratos – e não de gestão dos contratos.
Não aprendem na escola e se aprenderam na prática tem chance de não conhecerem melhores práticas: fazem o que aprenderam sem saber se existe forma melhor de fazer.
Se existe todo um aparato na empresa para gerir pessoas, como pode ela imaginar que sem qualquer apoio os contratos serão geridos adequadamente pelos gestores ?
Alguns conselhos básicos para cuidar do maior bem da empresa:
Reconhecer a necessidade de estabelecer padrões para gestão – que tragam transparência aos processos e possibilitem benchmark de gestão;
Separar a gestão da contratação da gestão do contrato: são coisas diferentes que quando tratadas como se fossem uma só trazem prejuízo e descontrole (riscos). Gestor de contratação geralmente não é a pessoa mais indicada para fazer a gestão;
Fazer com que os gestores entendam que técnicas amadoras ou sistemas informatizados apenas apresentam falsa idéia de que existe controle. Um sistema mal implantado ou mal parametrizado multiplica os problemas de gestão ao invés de eliminar;
Adotar um modelo para gestão do ciclo de vida completo dos contratos (evidentemente recomendo o GCVC – mas pode ser outro). Implantar gradualmente, conforme os gestores forem assimilando a técnica e os benefícios.
Eliminar completamente a gestão de contratos que não seja baseado em padrões e check-lists. A gestão não pode depender do conhecimento que está apenas na cabeça das pessoas: o próximo contrato de terceirização poderá ‘aposentar’ um funcionário que detém o controle de alguns contratos importantes.
Para preservar um bem da empresa tão importante : ‘guerra ao fio de bigode’ e ao amadorismo na gestão !
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