segunda-feira, 4 de junho de 2012

Escolas aproximam o ensino de negócios às ciências humanas.
Do Valor on line.
Por Rebecca Knight | Do Financial Times

Quando Garrett Koehn começou sua busca por um programa de MBA executivo (EMBA), um diploma universitário para executivos que trabalham, ele não conseguiu encontrar o que procurava. Koehn, que é presidente da divisão da companhia de seguros Crump Group para o noroeste dos Estados Unidos, queria se atualizar sobre a economia mundial, mas também reciclar seus conhecimentos sobre cultura e história.

No ano passado, ele se matriculou em um novo programa de EMBA, oferecido pela IE Business School da Espanha e pela Brown University em Rhode Island, que combina ciências humanas e sociais com o tradicional ensino de administração. A Brown é uma das duas únicas universidades da Ivy League dos Estados Unidos- a outra é Princeton- que não possui uma escola de negócios. "As ciências humanas acrescentam um contexto político, social e cultural ao que acontece nas finanças", diz.

Koehn não está sozinho na busca de um ensino de negócios mais bem acabado e as escolas estão percebendo isso. Abaladas pelas críticas sobre o papel que desempenharam na crise financeira- formando alunos que se concentravam em ganhar dinheiro e incapazes de pensar através de disciplinas múltiplas-, algumas decidiram ter currículos mais próximos das ciências humanas.

A Rotman School of Management da Universidade de Toronto, por exemplo, remontou seu currículo para estimular a capacidade dos alunos de inovar, colaborar e usar a imaginação. Em 2007, a Stanford Graduate School of Business fez amplas mudanças em seu currículo que deram mais peso às perspectivas multidisciplinares e à percepção dos contextos culturais.

Em certos aspectos, a maior ênfase nas ciências humanas é um reconhecimento de que o currículo tradicional de MBA tem deixado a desejar. Muitos dos maiores empregadores dos MBAs têm mudado a maneira com que buscam talentos corporativos. A globalização da mão de obra de colarinho branco mostrou que eles podem contratar formandos na Índia para cargos de análises financeiras, por salários menores.

Essa realidade coincide com a valorização crescente que os empregadores estão dando a outras disciplinas além de finanças e contabilidade. Uma estatística eloquente é que em 1993, 61% dos novos contratados pela consultoria McKinsey tinham MBA e, em 2006, esse número caiu para 43%.

"As companhias perceberam que estavam começando a perder vantagem na criatividade e na resolução de problemas. Por essa razão, começaram a contratar arquitetos, engenheiros e advogados", diz Stuart Kaplan, diretor operacional global da Korn/Ferry, empresa especializada na busca de executivos. "Eles estão vendo menos relevância no MBA tradicional."

Numa era em que os mercados financeiros estão interconectados e a inovação tecnológica ocorre em ritmo acelerado, o conjunto ideal de habilidades administrativas mudou, afirma ele. "Estamos nos afastando dos administradores do tipo que comandam e controlam, em direção a líderes que entendem que os cenários são mais fluidos. As companhias estão buscando comandantes que abordem os problemas sob diferentes perspectivas e que combinem essas abordagens para encontrar novas soluções."

James Spohrer, diretor dos programas universitários da IBM, diz que contratados com experiência em ciências humanas "tendem a ter uma escrita excelente, habilidades de comunicação falada e ainda existe uma probabilidade maior de serem pensadores criativos".

O programa da IE/Brown envolve aulas na Brown e na IE, complementadas por trabalhos em casa realizados online. Os cursos tradicionais compreendem dois terços do currículo, mas há também aulas de artes que exploram a história da música com o hip hop, uma aula de teatro para ajudar os alunos a aperfeiçoar a comunicação em público e uma aula de filosofia sobre o significado do trabalho e da identidade.

David Bach, reitor dos programas da IE Business School e diretor acadêmico do EMBA conjunto, descarta a noção de que as aulas de artes talvez sejam fáceis demais. "Elas dão aos alunos uma chance de engajamento no processo criativo. Os administradores dizem: 'Nunca me vi como uma pessoa criativa'. O fato de ser divertido não significa que não sirva a um propósito."

Entretanto, alguns membros da comunicado do MBA- até mesmo aqueles que veem valor nas ciências humanas - admitem que acrescentar uma dose delas no currículo tradicional não é a resposta. Roger Martin, reitor da Rotman, diz que os programas podem ser um "pouco autocomplacentes". "Eles falham na coisa mais difícil. As escolas não ensinam as pessoas como pensar sobre esses assuntos e como estruturar e resolver problemas cognitivos", observa. (Tradução de Mario Zamarian).

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